Discurso de Formatura da Turma de arquitetura e urbanismo de 2011 da Faculdade Assis Gurgacz
Boa Noite a todos,
O arquiteto Vila Nova Artigas disse uma vez “admiro os poetas, o que eles dizem em duas palavras, a gente tem que expressar em milhares de tijolos”. Hoje nos tornamos arquitetos, ou será que nos tornamos poetas? Eu gosto de pensar que nos tornamos poetas, que a partir de agora todo terreno é uma pagina em branco, os projetos são nossos versos. A partir dessa noite cada casa será uma rima que faremos em busca da métrica perfeita para o maior poema, a cidade.
Essa metáfora de arquitetura e poesia me faz pensar no primeiro projeto em que fizemos lá no inicio do curso de arquitetura e urbanismo. O medo do papel em branco estampando no rosto de cada um nós, o primeiro traço, ainda tímido, muitas vezes tremulo, talvez nem merecesse ser chamado de traço, alguns de nós o chamamos de risco. Como esquecer nossa primeira vez, aquela noite virada para terminar o projeto a tempo da entrega final, aquela noite em que descobrimos que sim é possível viver sem comida, desde que haja a uma garrafa cheia de café quentinho ao lado da prancheta e que nossas canecas nunca fiquem vazias. Alias, durante o curso de arquitetura descobrimos que é possível viver sem muitas coisas, sem contato humano, sem dormir, sem comer, mas se não conseguirmos plotar o projeto a tempo, é fim do mundo.
Mas vamos voltar a metáfora de arquitetura e poesia.
Cada casa que projetarmos e construirmos terá uma alma, a nossa que a projetamos e a de quem viver nela, que dará vida a casa, essa alma escreverá com lagrimas e sorrisos de quem viver sobre esses tetos uma historia. Dessa noite em diante, cada projeto que executarmos será um verso desse poema chamado cidade, mas também cada casa será um livro em branco em que a família que viver nela ira preenchendo aos poucos com sua historia. Pensar na alma que uma casa possui me faz lembrar das palavras da arquiteta Lina bo Bardi:
Uma casa deve ser como uma alma, aberta as coisas da vida e não como uma casa-caverna, uma furna de onça. Mais do que tudo, a casa deve ser uma entidade espiritual e moral, sem oferecer aparência cenografia teatral. LINA BO BARDI
Mas a arquitetura não se resume a casas, arquitetura é a arte de manipular o espaço, criar sensações em quem visita esses espaços. O arquiteto, com um simples traço de uma lapiseira sobre o papel, que mais tarde pela força do braço de muitos homens será transformado em obra, pode fazer as pessoas rirem, chorarem, maravilharem-se e apaixonarem-se. Sim, nunca podemos imaginar ao fazer uma obra, mas ela pode se tornar o cenário do primeiro beijo de alguém, e essas pessoas nunca esquecerão este lugar. Da mesma forma que mesmo depois de adulto ninguém esquece a casa em que cresceu, a escola em que estudou. Muitos arquitetos passaram por nossas vidas até chegarmos aqui, nunca os vimos, se quer soubemos seu nome e a partir de hoje seremos como eles. Cada linha de um projeto que fizermos, cada tijolo que for assentado por nós fará parte da vida de muitas pessoas, talvez elas nunca venham a conhecer nossos rostos ou saber nossos nomes, mas mesmo assim faremos parte de suas vidas.
Mais do que projetar casas, mais do que construir catedrais, mais do que projetar espaços ou escrever poemas. O arquiteto é o coadjuvante da vida da cidade, é o diretor do cotidiano das famílias, transforma sonhos em realidade, o arquiteto projeta desejos e emoções, o arquiteto constrói lembranças e memórias e permite que muitas outras sejam construídas. O arquiteto é construtor por natureza, é poeta por definição.
O arquiteto Vila Nova Artigas disse uma vez “admiro os poetas, o que eles dizem em duas palavras, a gente tem que expressar em milhares de tijolos”. Hoje nos tornamos arquitetos, ou será que nos tornamos poetas? Eu gosto de pensar, que ser arquiteto é também ser poeta.
Muito obrigado.
Rafael Venturin Piacentini
obs: Parabéns para os formandos e especialmente pra você Rafa, por ter escrito esse discurso tão bonito! (: